1996

Cometa Hyakutake: O grande Cometa de 1996

PRÓLOGO

Fonte: Alfredo Martins

Entre os grandes espetáculos astronômicos visíveis à vista desarmada, a observação de cometa brilhante no céu noturno é realmente um dos mais bonitos e emocionantes. Suas raras aparições ainda despertam espanto e magia, mesmo após suas características orbitais e astrofísicas terem sido descortinadas por inúmeras observações e estudos científicos nos últimos quatro séculos.

O GEA – Grupo de Estudos de Astronomia, nasceu em 1985 justamente por motivo da passagem periélica do mais famoso deles, o Cometa 1P/Halley. Sua aparição desencadeou uma comoção planetária denominada Halleymania, tendo como consequência admirável o surgimento de incontáveis grupos amadores de astronomia juntamente com o despertar desta ciência para os jovens estudantes e uma multidão de aficionados por toda beleza e segredos do céu noturno.

Embora muito afamada, esta última aparição do Halley foi muito discreta. Devido a configuração orbital entre a Terra e o cometa, sua grande cauda ficou ao longo da linha de visada dos observadores, escondida atrás de sua Coma. Sua máxima magnitude aparente não alcançou +2. Lembrando que esta grandeza é uma escala logarítmica reversa: quanto mais brilhante é um objeto, menor é o seu número de magnitude. Objetos celestes com magnitude +7 ou maior não são visíveis ao olho humano típico. Por outro lado, temos a Lua com m = -12.7 e o Sol com m = -26.8; Sirius, a estrela mais brilhante da esfera celeste, tem m = -1.4.

E eis que em março de 1996, surge no céu do hemisfério celeste sul ao anoitecer, o brilhante Cometa Hyakutake, com magnitude m = 0,4, exibindo sua bem definida Coma seguida por exuberante Calda, tida como a mais longa conhecida para um cometa, paralela ao horizonte com altura ~ 45°. O fato de ter sido um dos cometas que passaram mais perto da Terra nos últimos 200 anos, fez com que fosse excepcionalmente brilhante e facilmente observado, mas por poucos dias. Desta vez, sim, o GEA observou o que é realmente a grandeza de um cometa.

O cometa Hyakutake, ou C/1996 B2, foi descoberto em 30 de janeiro de 1996 por Yuji Hyakutake, um astrônomo amador do sul do Japão.

A seguir, vai o registro de algumas publicações deste fabuloso cometa.

COMETA HYAKUTAKE (C/1996 B2):

ANÁLISE DO GÁS E CARACTERÍSTICAS FÍSICAS
DAS PARTÍCULAS DE POEIRA

Publicação: Boletim da Sociedade Astronômica Brasileira (ISSN 0101-3440), vol.23, no.1, p. 243-244. Pub Date: August 2003.
Sanzovo, G. C. ; de Almeida, A. A. ; Boczko, R.

ABSTRACT

A completa caracterização e compreensão do núcleo de um cometa novo é de fundamental importância para a elucidação dos processos físicos e químicos atuantes na época da formação do Sistema Solar. O Cometa Hyakutake, conjuntamente com o Cometa Hale-Bopp representam os objetos mais brilhantes que visitaram o Sistema Solar Interno nos últimos 20 anos. Neste Trabalho, nós aplicamos o Método Semiempírico das Magnitudes Visuais (MSEMV) à aproximadamente 4000 dados observacionais que correlacionam a magnitude visual absoluta com a distância heliocêntrica para o Cometa Hyakutake nas fases pré- e pós-periélicas. Como produto da aplicação desse método, conseguimos caracterizar dimensionalmente seu núcleo e área ativa efetiva. As taxas de produção dos radicais CN, C2 e C3, obtidos a partir de dados disponíveis na literatura, revelam que, além de muito brilhante, o Hyakutake é um cometa “normal” no sentido de Cochran (1986). Desse modo, deduzimos as taxas de perdas de água (em moléculas/s) a partir da análise de sua magnitude visual aparente, e as convertemos em taxas de perdas de gás (em g/s), desprendido pelo núcleo cometário. Com o auxílio do modelo fotométrico clássico da poeira, realizamos uma análise sistemática e uniforme dessa componente cometária, a partir dos fluxos observacionais no contínuo, para os comprimentos de onda 365,0 e 484,5 nm, assumindo que esses fluxos são o resultado da radiação solar espalhada por grãos de partículas micrométricos presentes na coma. Com isso, pudemos obter as taxas de produção (em g/s), cores (relativas à cor neutra solar), e as dimensões efetivas médias das partículas de poeira, bem como as razões poeira-gás.

DA REPORTAGEM LOCAL – FSP – 15 de março de 1996

O cometa Hyakutake, descoberto pelo japonês Yuji Hyakutake no final de janeiro, poderá ser visto do Brasil a partir das 21 h de hoje.

Segundo Amauri de Almeida, do Instituto Astronômico e Geofísico da USP, sua maior aproximação da Terra ocorre neste fim de semana.

O cometa estará a cerca de 15 milhões de quilômetros da Terra, cerca de 40 vezes a distância entre o planeta e a Lua.

“O Hyakutake vai estar cinco vezes mais perto da Terra do que esteve o Halley “, diz o pesquisador.

Alguns fatores contribuem para que o cometa seja visto:

– No último dia 12, a Lua entrou em quarto minguante, o que significa que o céu deve estar “mais escuro”. Mas as condições do tempo são fundamentais à observação. Nuvens ou chuva podem impedir que o cometa seja visto.

Os pesquisadores acreditam que ele será mais brilhante que o Halley. “Temos algumas evidências de que ele seja muito brilhante”.

– A primeira evidência é que o cometa é “novo”. Segundo Amauri, cometas que já passaram pelo Sol, como o Halley -registrado 33 vezes- são menos brilhantes.

Um cometa pode ser comparado a uma bola de “gelo sujo”. A sujeira -partículas de poeira-, que reflete os raios do Sol, é responsável, em parte, pelo seu brilho.

Cada vez que um cometa passa pelo Sol, parte de sua massa é “perdida” porque a poeira e os gases que o formam são dissipados.

Assim, cometas como o Halley são muito menos brilhantes do que já foram, por exemplo, no ano de 466 a.C, quando foi registrada sua primeira aparição.

“O novo cometa está sendo exposto pela primeira vez à radiação solar. Isso indica que, potencialmente, ele é muito brilhante”.

O Hyakutake, com raio de cerca de 6 km, é maior que o Halley (5 km). Ele pode nunca mais voltar à Terra. Só será possível traçar sua trajetória após a passagem pelo Sol.

COMETA HYAKUTAKE PASSES THE EARTH – APOD / NASA

Credit & Copyright: Doug Zubenel (TWAN)

Explanation: In 1996, an unexpectedly bright comet passed by planet Earth. Discovered less than two months before, Comet C/1996 B2 Hyakutake came within only 1/10th of the Earth-Sun distance from the Earth in late March. At that time, Comet Hyakutake, dubbed the Great Comet of 1996, became the brightest comet to grace the skies of Earth in 20 years. During its previous visit, Comet Hyakutake may well have been seen by the stone age Magdalenian culture, who 17,000 years ago were possibly among the first humans to live in tents as well as caves. Pictured above near closest approach as it appeared on 1996 March 26, the long ion and dust tails of Comet Hyakutake are visible flowing off to the left in front of a distant star field that includes both the Big and Little Dippers. On the far left, the blue ion tail appears to have recently undergone a magnetic disconnection event. On the far right, the comet’s green-tinted coma obscures a dense nucleus of melting dirty ice estimated to be about 5 kilometers across. A few months later, Comet Hyakutake began its long trek back to the outer Solar System. Because of being gravitationally deflected by massive planets, Comet Hyakutake is not expected back for about 100,000 years.

TRADUÇÃO

Explicação: Em 1996, um cometa inesperadamente brilhante passou pelo planeta Terra. Descoberto menos de dois meses antes, o cometa C/1996 B2 Hyakutake chegou a apenas 1/10 da distância Terra-Sol da Terra no final de março. Naquela época, o cometa Hyakutake, apelidado de Grande Cometa de 1996, tornou-se o cometa mais brilhante a enfeitar os céus da Terra em 20 anos. Durante sua visita anterior, o cometa Hyakutake pode muito bem ter sido visto pela cultura Magdaleniana da idade da pedra, que há 17.000 anos estava possivelmente entre os primeiros humanos a viver em tendas e cavernas. Na foto acima, perto da maior aproximação como apareceu em 26 de março de 1996, as longas caudas de íons e poeira do cometa Hyakutake são visíveis fluindo para a esquerda na frente de um campo estelar distante que inclui a Ursa Maior e a Ursa Menor. Na extrema esquerda, a cauda de íons azuis parece ter sofrido recentemente um evento de desconexão magnética. Na extrema direita, a coma esverdeada do cometa obscurece um núcleo denso de gelo sujo derretido, estimado em cerca de 5 quilômetros de diâmetro. Alguns meses depois, o cometa Hyakutake começou sua longa jornada de volta ao Sistema Solar externo. Por ser desviado gravitacionalmente por planetas massivos, o cometa Hyakutake não deve voltar por cerca de 100.000 anos.

MEMÓRIA VISUAL

COMETA HYAKUTAKE

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre

Cometa Hyakutake (formalmente designado C/1996 B2) é um cometa descoberto em Janeiro de 1996, que passou muito perto da Terra no mês de Março desse mesmo ano. Foi considerado o maior cometa de 1996 (media 4,2 km), e um dos cometas que passaram mais perto do planeta Terra nos últimos 200 anos, o que fez com que fosse facilmente observado no céu nocturno sendo visto por um grande número de pessoas em todo o mundo. O cometa cobriu temporariamente o muito aguardado cometa Hale-Bopp, que se aproximava do interior do Sistema solar, apesar do Hyakutake estar no seu estado mais brilhante por apenas alguns dias.

Observações cientificas do cometa levaram a algumas descobertas notáveis. A mais surpreendente para os cientistas foi a descoberta de emissão de raios X a partir do cometa, pois foi a primeira vez que essa emissão foi encontrada. Os cientistas acreditam que esta emissão é causada pelas partículas ionizadas de vento solar que interagem com os átomos neutros do cometa.

A nave espacial Ulysses também cruzou inesperadamente a cauda do cometa a um distância de mais de 500 milhões de quilómetros do núcleo, mostrando que o Hyakutake tinha a cauda mais longa até então conhecida para um cometa. O Hyakutake é um cometa de período longo, antes desta sua passagem pelo Sistema Solar, o seu período orbital era de cerca de 15 000 anos, mas a influência gravitacional dos planetas gigantes aumentou-o para 72 000 anos.

Hyakutake

Descoberta

Descoberto porYuji Hyakutake
Data1996
Outros nomesC/1996 B2

Informações Orbitais

Excentricidade (e)0,999902
Semi-eixo maior (a)2 349,02 UA
Periélio (q)0,230204 UA
Afélio (Q)4698,77 UA
Período orbital (P)70 000-114 000 anos
Inclinação (i)124.9°
Longitude do nó ascendente (Ω)
Argumento do periastro (ω)
Último periélio1 de Maio de 1996
Próximo periélio72 000-116 000 anos

Propriedades Físicas

Dimensões
Massa
Velocidade de escape

A DESCOBERTA

O cometa foi descoberto a 30 de Janeiro de 1996 por Yuji Hyakutake, um astrónomo amador do sul do Japão. Ele procurou cometas durante alguns anos e se mudou para a área rural da província de Kagoshima por causa do céu das áreas rurais com pouca interferência da iluminação noturna. Ele usava uns potentes binóculos com objectivas de seis polegadas para ver o céu na noite da descoberta.

O cometa que ele encontrou era realmente o segundo cometa Hyakutake, o primeiro era o cometa C/1995 Y1, que Hyakutake tinha descoberto apenas algumas semanas antes. Quando re-observava seu primeiro cometa (que nunca se tornou visível a olho nu), Hyakutake olhou para o céu e ficou surpreendido quando viu que havia um outro cometa, quase no mesmo local em que o outro tinha estado. Embora ele mal pudesse acreditar que tinha descoberto um segundo cometa tão próximo do primeiro, Hyakutake, relatou a sua observação na manhã seguinte ao Observatório Astronómico National do Japão. Mais tarde desse mesmo dia, a descoberta foi confirmada por observações independentes.

REFERÊNCIAS

– Jones, G. H., Balogh, A., Horbury, T. S., (2000). Identification of comet Hyakutake’s extremely long ion tail from magnetic field signatures. Nature 404: 574.

– Gloeckler, G., Geiss, J., Schwadron, N.A., et al (2000). Interception of comet Hyakutake’s ion tail at a distance of 500 million kilometres. Nature 404: 576.

– Mumma, M.J., Disanti, M.A., dello Russo, N., Fomenkova, M., Magee-Sauer, K., Kaminski, C.D., and D.X. Xie (1996). Detection of Abundant Ethane and Methane, Along with Carbon Monoxide and Water, in Comet C/1996 B2 Hyakutake: Evidence for Interstellar Origin. Science 272: 1310.

– Bockelee-Morvan, D., Gautier, D., Lis, D.C., et al (1998). Deuterated Water in Comet C/1996 B2 (Hyakutake) and Its Implications for the Origin of Comets. Icarus 133: 147.

– Glanz, J (1996). Comet Hyakutake Blazes in X-rays. Science 272: 194.

– Sarmecanic, J., Fomenkova, M., Jones, B., and T. Lavezzi (1997). Constraints on the Nucleus and Dust Properties from Mid-Infrared Imaging of Comet Hyakutake. Astrophysical Journal Letters 483: L69.

– Lisse, C.M., Fernández, Y.R., Kundu, A., et al (1999). The Nucleus of Comet Hyakutake (C/1996 B2). Icarus 140: 189.

– Fulle, M., Mikuz, H., and S. Bosio (1997). Dust environment of Comet Hyakutake 1996 B2. Astronomy and Astrophysics 324: 1197.

– Jewitt, D.C. and H.E. Matthews (1997). Submillimeter Continuum Observations of Comet Hyakutake (1996 B2). Astronomical Journal 113: 1145.

– Schleicher, D.G., Millis, R.L., Osip, D.J., and S.M. Lederer (1998). Activity and the Rotation Period of Comet Hyakutake (1996 B2). Icarus 131: 233.

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