Fonte: Alfredo Martins
Estudos de antropologia mostram que todas as civilizações em todos os tempos têm algo em comum: a consciência da transcendência – uma entidade primeira e separada da matéria, considerada divina, que foi responsável por criar a matéria. A espiritualidade é a própria condição antropológico-ontológica sob a qual podemos nos dizer “humanos”. De fato, a realidade percebida é ampla, surpreendente, misteriosa e apta para ser compreendida (nunca plenamente).
Uma pergunta recorrente nos cursos e palestras de astronomia, diante da constatação das incomensuráveis grandezas do universo, é: Como tudo isso surgiu?, De onde viemos? Deus existe? O que havia antes do Big Bang? A cosmologia oferece uma explicação bastante robusta para a origem do universo, embora críticas e dúvidas sejam frequentemente levantadas. Se Deus existe, ninguém provou, e se não existe, também ninguém provou.
O céu noturno estrelado e povoado por planetas e a lua, é com certeza um dos maiores espetáculos que a natureza oferece. Olhando para o espaço sem fim entre as estrelas, temos a percepção do infinito e, seguindo por ele, da eternidade. Esta contemplação nos preenche de sentimentos e emoções, independentes da realidade física, transbordando em profundas reflexões sobre as inúmeras particularidades da nossa existência, tais como o amor, a felicidade, a humildade, gratidão, o sentido da vida etc.
Outra forma bastante acessível de encontrar inspiração é na arte da música. Ela é uma das maneiras em que expressamos sentimentos quando não temos palavras, uma forma de compreendermos as coisas com os nossos corações quando não as compreendemos com nossas mentes. Além de apresentar questões reflexivas, a combinação de ritmo, harmonia e melodia promove um equilíbrio mental, proporcionando um estado agradável de bem-estar.
Então, quando estas duas entidades se combinam, o resultado é uma miríade de produções que exploram esta íntima conexão da astronomia com a música. Uma delas, justamente a que inspirou a realização deste post, foi a música “Drops of Jupiter” (Gotas de Júpiter) da banda “Train”. Para os astrônomos, Júpiter é um planeta superespecial pois além de ser o gigante do sistema solar. apresenta-se como um dos mais brilhantes, especialmente quando na configuração orbital de Oposição em seu Perigeo. Exatamente o que aconteceu em 15 de setembro de 1998.
Desde o site – https://www.letras.mus.br, vejamos: a “lyrics” com sua tradução, o link do vídeo no “YouTube” e o significado de sua mensagem.
Drops Of Jupiter / Train
Agora que ela está de volta à atmosfera
Now that she’s back in the atmospehere
Com gotas de Júpiter no seu cabelo
With drops of Jupiter in her hair
Ela age como o verão e anda como a chuva
She acts like summer and walks like rain
Me lembra que há um tempo para mudar
Reminds me that there’s a time to change
Desde o retorno da temporada dela na Lua
Since the return of her stay on the Moon
Ela ouve como a primavera e conversa como Junho
She listens like spring and talks like June
Mas me diga, você velejou através do Sol?
But tell me, did you sail across the Sun?
Você chegou até a Via Láctea
Did you make it to the Milky Way
Para ver as luzes todas apagadas
To see the lights all faded
E que o céu está superestimado?
And that heaven is overrated?
Me diga, você se apaixonou por uma estrela cadente?
Tell me, did you fall for a shooting star?
Uma sem uma cicatriz permanente?
One without a permanent scar?
E você sentiu minha falta
And did you miss me
Enquanto você estava buscando por si mesma lá fora?
While you were looking for yourself out there?
Agora que ela está de volta daquelas férias da alma
Now that she’s back from that soul vacation
Traçando o caminho dela através da constelação
Tracing her way through the constellation
Ela escuta Mozart enquanto faz Tae-bo
She checks out Mozart while she does Tae-Bo
Me lembra que há espaço para crescer
Reminds me that there’s room to grow
Agora que ela está de volta à atmosfera
Now that she’s back in the atmosphere
Estou com medo que ela possa me ver como uma
I’m afraid that she might think of me as
Garota comum que contou uma história sobre um homem
Plain old Jane told a story about a man
Que tinha muito medo de voar então ele nunca aterrissou
Who was too afraid to fly so he never did land
Mas me diga, o vento te conquistou?
But tell me, did the wind sweep you off your feet?
Você finalmente teve a chance de dançar junto à luz do dia
Did you finally get the chance to dance along the light of day
E voltar para a Via Láctea?
And head back to the Milky Way?
E me diga, Vênus te surpreendeu?
And tell me, did Venus blow your mind?
Foi tudo o que você quis encontrar?
Was it everything you wanted to find?
E você sentiu minha falta
And did you miss me
Enquanto você estava buscando por si mesma lá fora?
While you were looking for yourself out there?
Você consegue imaginar nenhum amor, orgulho, frango frito
Can you imagine, no love, pride, deep fried chicken
Seu melhor amigo sempre defendendo você
Your best friend always stickin’ up for you
(Mesmo quando eu sei que você está errada)
(Even when I know you’re wrong)
Você pode imaginar nenhuma primeira dança
Can you imagine no first dance
Um romance congelado
Freeze dried romance
Uma conversa de 5 horas no telefone
Five-hour phone conversation
O melhor café com leite de soja que você já tomou, e eu?
The best soy latte that you ever had, and me?
Mas me diga, o vento te conquistou?
But tell me, did the wind sweep you off your feet?
Você finalmente teve a chance de dançar junto à luz do dia
Did you finally get the chance to dance along the light of day
E voltar para a Via Láctea?
And head back toward the Milky Way?
Mas me diga, você velejou através do Sol?
Tell me, did you sail across the Sun?
Você chegou até a Via Láctea para ver as luzes todas apagadas
Did you make it to the Milky Way to see the lights all faded
E que o céu está superestimado?
And that heaven is overrated?
Me diga, você se apaixonou por uma estrela cadente?
Tell me, did you fall for a shooting star?
Uma sem uma cicatriz permanente
One without a permanent scar?
E você sentiu minha falta enquanto você estava buscando por si mesma?
And did you miss me while you were looking for yourself?
(Na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na)
(Na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na)
E você finalmente teve a chance de dançar junto à luz do dia?
And did you finally get the chance to dance along the light of day?
(Na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na)
(Na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na)
E você se apaixonou por uma estrela cadente?
And did you fall for a shooting star?
Se apaixonou por uma estrela cadente?
Fall for a shooting star?
(Na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na)
(Na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na)
E você está solitária, buscando por si mesma lá fora?
And are you lonely looking for yourself out there?
Significado da Mensagem:
A música sugere uma reflexão sobre o crescimento pessoal e as consequências das escolhas que fazemos, questionando se a busca por si mesmo vale a distância emocional que pode ser criada com aqueles que nos amam.
A Jornada Espacial e o Reencontro:
Uma Análise de ‘Drops Of Jupiter’ do Train
A música ‘Drops Of Jupiter’ da banda Train, lançada em 2001, é uma composição que mistura metáforas espaciais com sentimentos de amor e descoberta pessoal. A letra fala sobre uma pessoa que retorna de uma jornada de autoconhecimento, descrita de maneira poética como uma viagem pelo espaço sideral. As referências ao universo, como ‘drops of Jupiter in her hair’ e ‘sail across the Sun’, são usadas para ilustrar as experiências transformadoras que a pessoa vivenciou durante sua ausência.
O refrão questiona se, durante essa viagem metafórica, a pessoa conseguiu encontrar o que estava procurando e se, no processo, sentiu falta de quem a esperava. A música sugere uma reflexão sobre o crescimento pessoal e as consequências das escolhas que fazemos, questionando se a busca por si mesmo vale a distância emocional que pode ser criada com aqueles que nos amam. A banda Train, conhecida por seu rock alternativo com toques de pop, utiliza uma linguagem poética e imagética para transmitir a complexidade dos sentimentos envolvidos.
Além das metáforas cósmicas, a canção também aborda temas mais terrenos, como amor, amizade e as pequenas alegrias da vida cotidiana, exemplificadas na estrofe que menciona ‘deep fried chicken’ e ‘the best soy latte that you ever had’. Essa mistura de elementos celestiais e cotidianos destaca a ideia de que, mesmo após experiências extraordinárias, são os detalhes simples e as relações humanas que trazem significado à vida. ‘Drops Of Jupiter’ é uma reflexão sobre o equilíbrio entre a busca interior e a importância de manter conexões com aqueles que nos cercam.
A INTERSECÇÃO ENTRE ESPIRITUALIDADE E CIÊNCIA
Ao longo da história da astronomia e das ciências, gigantes do pensamento estiveram em lados opostos. Em poucos exemplos – Autoproclamados ateus: Richard Dawkins, Stephen Hawking. Teístas: Galileu Galilei, Isaac Newton. Agnósticos: Albert Einsten – não acreditava no deus das religiões mas admitia plenamente a existência de Jesus e a possibilidade da existência de um deus criador do universo. Foi alinhado com a vertente de Spinoza: Tudo e todos fazem parte da composição de deus. Carl Sagan também seguia esta linha de pensamento: “Um ateu tem que saber muito mais do que eu sei. Um ateu é alguém que sabe que não existe um deus.” Neil Degrasse Tyson deu um bom motivo para ser agnóstico: “Falta de energia para lidar com os ateus.”
Marcelo Gleiser, professor de física e astronomia, mesmo sem acreditar num deus monoteísta, tem se dedicado a mostrar que ciência e religião não são inimigas. Reconhece que o conhecimento humano é limitado e afirma que “O ateísmo é uma crença na não-crença: Nega-se algo contra o qual não tem provas”. Portanto é também uma questão de fé. E afirma: “Devemos ter humildade de aceitar que há muito mistério ao nosso redor. A ciência não mata a religião.”
Alister McGrath é outro importante pensador contemporâneo, proeminente no mundo acadêmico e teólogo. Ele é reconhecido por sua erudição e profundidade intelectual. Nascido na Irlanda do Norte em 1953, com formação em diversas áreas das ciências naturais, tem vários livros dentro desta perspectiva, tais como: “Ciência e Religião – Fundamentos para um Diálogo” e “ Deus e Darwin”. Seu fundamento é que ver o mundo apenas com a visão humana natural é insuficiente. Nós precisamos ver as coisas com mais clareza e a espiritualidade é uma cortina aberta para ver o que há por trás das evidências.
Os psicólogos têm notado como os seres humanos frequentemente buscam sentido tentando “transcender suas próprias preocupações ou experiências e conectar-se com algo maior”. Talvez essa imagem abaixo, creditada como Gravura de Flammarion, documentada em1888, representando a visão de um homem ajoelhado à beira da Terra olhando para o céu desde sua intersecção com a Terra, capture tanto essa busca humana por significados quanto sugira o possível papel de observar os céus ajudando-nos a conseguir isso.
MEMÓRIA VISUAL