Avelino Alcebíades Alves
é um experiente astrônomo amador que iniciou suas observações
por volta de 1978 quando por meio de uma modesta luneta de 30 mm começou
a identificar algumas estrelas duplas. A associação com clubes
de astronomia, UBA, por exemplo, o auxiliou em muito no aprimoramento das
observações. Em 1985 ele era um dos pouquíssimos astrônomos
de Florianópolis (com isso inclui-se tanto os profissionais como
os amadores) que sabia onde localizar o Cometa Halley, tanto que na capital
catarinense ele foi o primeiro e o último amador a observar o Cometa
na histórica passagem de 1985/86. Nesta época ele participou
ativamente na formação do Grupo de Estudos Astronômicos
de Florianópolis - GEA.
Não precisou muito tempo
para que Avelino voltasse seu telescópio para as estrelas variáveis
- campo onde produziu muitos frutos. Iniicialmente se dedicando a LPV's,
com o tempo sua atenção foi para as Binárias Eclipsantes
de forma que recebeu ajuda do Coordenador de Binárias Eclipsantes
da AAVSO - Marvin Baldwin.
Numa época sem internet,
Avelino enviava suas observações para a AAVSO por correio
e em 1994 recebeu um pacote contendo cerca de 16 cartas de binárias
eclipsantes (exceto UV Oct, que é do tipo RRab). As estrelas precisavam
de mais dados e seus elementos normalmente eram de épocas antigas
(mais de 20 anos). Eis a primeira lista:
Algumas estrelas estavam plotadas
no AAVSO Atlas, facilitando a localização e o caminho até
o alvo. Mas estrelas como AN Tuc, V Tuc, X Gru e LU Ara não constam
no Atlas, então neste caso o "feeling" de observador prevalecia
- mesmo porque Avelino não tinha computador, muito menos internet,
para converter as coordenadas 2000 das cartas para 1950 do Atlas.
Ora, mas tais estrelas já
não deviam ser previamente escolhidas ao montar a carta?
A Figura 1 temos uma carta simulada
pelo Guide7 para a região de X Gru.
Vemos que só temos a
localização da variável e a escala de magnitudes.
Que estrelas de comparação usar? Avelino teve que escolher
algumas estrelas próximas da variável e estimar suas magnitudes
levando em consideração o limite visual de seu telescópio
de 20cm, bem como as magnitudes memorizadas de um campo mais comum para
ele - a região de UW Cen, usando a carta da RASNZ. Normalmente as
magnitudes entre 10.0 e 12.5 são mais aproximadas dos valores V(Johnson)
do catálogo Tycho-2 do que as estrelas com mV > 10.0 .
Ao rever 107 estrelas de comparação
usadas por Avelino Alves em 36 campos de suas binárias eclipsantes
foi obtido o resultado que pode ser acompanhado na Figura 2:
9% das estrelas foram estimadas
congruentemente aos valores de referência.
levando em consideração
que a variação de ±
0.2 magnitudes é aceitável para o observador visual, conclui-se
que cerca de 43% das estrelas selecionadas foram estimadas em valores aproximados
aos de referência.
a linha vermelha indica a porcentagem
de estrelas vermelhas (b-v > +1.0) escolhidas. Nota-se que as estrelas
vermelhas foram as principais responsáveis pelo erro de 5 décimos
de magnitude mais fracos que os valores de referência.
outros fatores também devem
ser levados em consideração tais como o uso de magnitudes
fotográficas adotadas por Avelino com base nas cartas fornecidas
e algumas magnitudes do catálogo GSC adotadas na falta do Tycho-2,
correspondendo 6% do total de estrelas selecionadas.
Figura 1: Carta de X Gru
Figura 2: porcentagem da
variação das magnitudes estimadas
Mesmo após essa hercúlea
tarefa, Avelino conseguiu algumas proezas interessantes:
descobriu que o período de
NP Pavonis era a metade do anotado no GCVS
foi detectado o efeito Blashko em
UV Oct, que não é binária eclipsante, sendo esse efeito
típico das estrelas RR Lyrae
apesar de estar mergulhada no campo
da Pequena Nuvem de Magalhães, V Tuc apresenta o mais rápido
dos eclipses dentre as estrelas acompanhadas
descobriu um eclipse secundário
bem evidente em V393 Sco
os eclipses de LU Ara apresentam
um forte desvio (fase = +0.4) usando elementos do GCVS
O trabalho de Avelino despertou
a atenção da AAVSO, de modo que em 1996 ele tornou-se membro
da entidade, ocasião em que Marvin Baldwin fez referência
a Avelino "continuar seu trabalho sobre algumas estrelas do hemisfério
sul desde sua localidade, Florianópolis, Brasil". Para felicitá-lo
ainda mais, em 1998 Baldwin enviou um segundo pacote com mais 40 cartas
de outras binárias eclipsantes. A mesma tarefa árdua foi
realizada e parte destas cartas também foram usadas para a comparação
com o catálogo Tycho-2.
Mesmo usando fotometria própria
- às vezes auxiliada pelas estrellas da carta da RASNZ para UW Cen
- Avelino obteve mais resultados interesssantes dentre as 40 estrelas da
segunda remessa:
observações das estrelas
SS Cen, V646 Cen, ST Car e RR TrA tem mantido boa consistência com
os elementos do GCVS
GW Car apresenta um secundário
bem evidente. Inclusive o primeiro eclipse observado tratava-se justamente
do secundário
BS Mus apresenta um secundário
bem profundo, com variação quase igual ao primário
AU Cir, AG Pav, DT Lup e FU Vel
têm mantido boa consistência de dados
Todas as observações
de Avelino foram feitas sem conhecimento prévio dos elementos do
GCVS, exceto o período de cada binária, normalmente até
a terceira casa decimal. Isso implicava em passar noites e meses a fio
à procura do primeiro eclipse para depois aplicar o período
e prever novos eventos. Depois de vários eclipses observados numa
mesma estrela, era comum Avelino usar seus próprios dados para refinar
o período fornecido usando cálculos apropriados e feitos
de forma totalmente aritmética - como ele mesmo diz: usando uma
calculadora de camelô. Uma vez conhecendo a sua seqüência
de cálculo foi possível transplantar para as planilhas do
MS-Excel e verificar os resultados.
Até mesmo as estrelas
de comparação selecionadas para as binárias eclipsantes
serão importantes para averigüar o comportamento mais preciso
destas binárias, principalmente a obtenção da variação
de suas magnitudes visuais, sabendo que o GCVS aponta alguns valores fotográficos.
Mas independente da "fotometria"
usada, as observações de Avelino permitem a obtenção
de elementos atualizadas para cerca de 35 binárias eclipsantes austrais,
facilitando o trabalho de outros astrônomos que desejam estudar tais
estrelas.