Fonte: Alfredo Martins
A combinação Ciência & Turismo é a receita perfeita para os amantes da astronomia. É absolutamente indesculpável estar perto de um local histórico, de significado importante para o desenvolvimento da ciência, e não constatar e celebrar os acontecimentos dignos de lembrança deste local. Desta forma, no ano de 2002, estando hospedado em Toulouse, sul da França, veio logo à memória, a imagem de abertura de um dos meus primeiros livros de astronomia – LAROUSSE ASTRONOMY / New Revised Edition: uma espetacular vista aérea do Pic du Midi Observatory, famoso por sua qualidade na observação solar, lunar e planetária. Em consequência disso, uma visita tornou-se praticamente obrigatória. Segue então algumas considerações sobre este Patrimônio Astronômico chancelado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e IAU (União Astronômica Internacional).
O Observatoire du Pic du Midi de Bigorre está localizado no sul da França, Midi Pyrénées Region, Hautes-Pyrénées Departament, na altitude de 2.830 metros. A Cordilheira dos Pirineus é uma fronteira natural de quase 400 km de extensão que separa a França da Espanha, juntando o Oceano Atlântico ao Mediterrâneo. Nesta cadeia de picos nevados se destaca o Pic du Midi (Pico do Meio-dia), beneficiado com excepcional vista panorâmica e excelente qualidade atmosférica livre de poeira e gotas de chuva. A estabilidade atmosférica é outra grande vantagem por apresentar fluxo laminar das correntes de ar, com ausência de turbulência entre o pico e as estrelas.
Mesmo antes do início de sua construção, iniciada em 20 de julho de 1878, pesquisas científicas já eram ali realizadas, como por exemplo, medidas da pressão atmosférica na altitude por Cassini III em 1740. Atualmente, ele é reconhecido como o mais antigo observatório em montanha do mundo, estando em atividade até os dias de hoje.
A plataforma do Pic contém: 4 (quatro) edificações no terraço – o Vaussenat, o Nanssouty, o Dauzère e o Marchand Laboratory; 7 (sete) Observatórios Astronômicos, 5 (cinco) dos quais ainda em atividade; 1 (uma) Torre de Comunicações.
Desde 2013, o Observatório Pic du Midi é reconhecido como “Internacional Dark Sky Reserve”. Por toda sua qualidade e longeva atuação, ele está qualificado como “Astronomical Heritage”, um Patrimônio Astronômico aprovado pela UNESCO e IAU, evidenciado por sua prática da astronomia e aos usos e representações sociais da astronomia. Ele é um monumento tangível e intangível que apoia o interesse humano pela astronomia.
RESUMO DOS TRABALHOS CIENTÍFICOS E SEUS RESULTADOS
Os Raios Cósmicos – Os observatórios de alta-altitude são prioritários nestes experimentos porque eles reduzem os efeitos destrutivos da atmosfera sobre estas partículas. Seu estudo provê uma via indireta para compreender a física nuclear.
O Sol – A monitorização da Coroa Solar por coronógrafo permite analisar inteiramente a atmosfera solar. O estudo da Fotosfera e Cromosfera também foram realizados.
A Lua – A alta qualidade das imagens permitiu ao Pic du Midi mapear a superfície da Lua. Milhares de imagens foram realizadas e o trabalho com a NASA ajudou no planejamento do Programa Apollo.
Os Planetas e seus Satélites – Detalhada cartografia de Marte foi realizada, bem como a determinação acurada da duração de seu dia, o nivelamento topográfico do planeta e a orientação de seu eixo rotacional. Sobre Vênus, ajudou a esclarecer sua rotação retrógrada e a 4-dias hiper rotação de sua atmosfera. O estudo da topografia, composição do solo e atmosfera dos planetas e satélites foi a maior contribuição do Pic para as ciências planetárias. Usando técnicas com polarímetro, suas descobertas foram confirmadas pelas sondas Voyager. Porém, com o advento das sondas espaciais, a pesquisa planetária gradualmente declinou.
LINHA DO TEMPO DO OBSERVATÓRIO PIC du MIDI de BIGORRE
# 20 de julho de 1878 – Colocação da Pedra Fundamental do Observatório do Pic du Midi de Bigorre.
# 1903 ~ 1937 – Construção da 1ª cúpula com telescópio de 50 cm.
# 1922 – O Pic está em perigo por danos sofridos na 1ª Grande Guerra Mundial. Aconselhado o fechamento, houve então uma grande mobilização de cidadãos, vereadores e cientistas para melhoria da infraestrutura e desenvolvimento do Observatório.
# 1930 ~ 1937 – Instalado um Coronógrafo. As 1ªs imagens da Coroa Solar trouxeram prestígio internacional até os anos 80.
# 15 agosto de 1952 – Entra em funcionamento o 1º Teleférico, iniciando nova era.
# 1952 ~ 1964 – O Pic du Midi ganha reputação internacional pela qualidade das pesquisas dos Raios Cósmicos, do Sol. Planetas e da Lua. Este mapeamento de nosso satélite contribuiu para o Programa Apollo da NASA.
# 1963 – Instalação da Antena de Comunicações, criando mais um ícone arquitetônico para a plataforma.
# 1965 ~ 1981 – Apogeu científico do Pic com a instalação do Bernard Lyot Telescope (BLT) que deu legitimidade frente ao desenvolvimento de grandes observatórios internacionais.
# 1982 ~ 1995 – com a degradação das edificações, a concorrência internacional e os custos de manutenção, o Pic ficou novamente ameaçado de fechamento. Nova mobilização pôs em marcha a “Operação Pic 2000”. que introduzia uma moderna combinação: Ciência e Turismo.
# 1995 ~ 2000 – Um aporte de 40 milhões de euros da início ao projeto de turismo.
# 2001 ~ 2018 – O projeto teve êxito cada vez maior: novo Teleférico, Planetário, Concertos, Teatro, Trilhas, Ponte Flutuante etc.
# 2018 até hoje – O Observatório Pic du Midi de Bigorre recebe 140.000 visitantes ao ano e segue em evolução com hotelaria de qualidade ostentando o título de Patrimônio Mundial UNESCO / IAU e Reserva de Céu Escuro. A receita ciência/turismo, tudo de qualidade, foi plenamente vitoriosa. Outrossim, a atividade científica segue contínua com o uso do BLT que foi especializado para pesquisa de Espectro-polarimetria Estelar, bem como a questão das ciências atmosféricas. Em resumo, grande esforço comunitário, científico e governamental, determinaram o sucesso absoluto deste histórico empreendimento que atualmente está vivo e é reverenciado não apenas por amantes da astronomia, mas por todos que percebem a aventura humana ao conhecimento.
MEMÓRIA VISUAL
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