Fonte: Alfredo Martins
O céu estrelado, com sua imaginária abóbada fixa permeada de estrelas, astros fugidios e surpreendentes como os planetas, satélites, cometas e meteoros, é considerado o maior espetáculo para os habitantes da Terra. Muitos cientistas dizem, com muita razão, que a realidade é uma ficção. Mas neste caso, a realidade do deslumbrante céu estrelado é a mais alcançável ficção que podemos acessar. Você vê coisas que não são faladas e sente coisas que não tem palavras para expressar seus sentimentos.
Ombreando-se com o Sol, a Lua, Vênus, Júpiter e alguns cometas, o planeta Marte pertence ao panteão dos astros que preencheram, e ainda o fazem, a imaginação humana de utopias, fantasias, lendas, mitos, narrativas, estórias e histórias. Então, quando observamos este astro destacando-se no céu noturno no seu máximo brilho, e ainda, tendo a visão de seu disco e calota polar ao telescópio, realmente podemos afirmar que presenciamos um evento grandioso e histórico, digno de constar na história do GEA.
50.000 anos no passado, foi a última vez que Marte iluminou a noite com tal brilho. Então, toda esta comoção em torno de Marte nesta ocasião foi um exagero? (Astronomy Magazine, August 2003). O GEA observar e divulgar ao público um evento celeste jamais registrado na história da humanidade, merece ser contado?
Com toda certeza. E tudo começa com o profundo conhecimento de astronomia deste Grupo, lastreado no entendimento da mecânica celeste, leitura do céu e no contato com renomadas fontes de informações nacionais e internacionais. Nosso grande parceiro de divulgação pública da astronomia, o Jornal “Diário Catarinense do grupo RBS”, magistralmente fez a comunicação e registro deste espetacular evento, que você pode conferir na Memória Visual deste post. Somente estas reportagens já recompõem a magnitude deste acontecimento. Vamos então apresentar alguns complementos.
Considerações astronômicas (Anuário de Astronomia 2003 de Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Ed. Bertrand Brasil): A melhor oportunidade para observar Marte é quando este planeta e a Terra, além de se encontrarem do mesmo lado do Sol, atingem a menor distância passível entre si. Isso ocorre quando os três astros se encontram alinhados e a Terra ocupa a posição central. Neste caso, visto do nosso planeta, Marte e o Sol estariam em posições opostas no espaço, razão pela qual essa configuração planetária é chamada Oposição. Diz-se que Marte está em oposição ao Sol. Ele nasce no leste ao crepúsculo vespertino, está no zênite a meia-noite e seu ocaso se dá no oeste ao crepúsculo matutino. Porém, nem todas as oposições são favoráveis, em virtude de as órbitas não serem circulares, são sim, elípticas. As oposições mais favoráveis, são quando a distância Terra-Marte é quase mínima. Ocorrem quando Marte se encontra no Periélio. Estas são conhecidas como Oposições Periélicas. Em 2003, no dia 28 de agosto, ocorreu a máxima aproximação: 55.758 milhões de km, com magnitude de -2,88. Uma ocasião única para apreciar o planeta a olho nu ou com instrumento modesto.
Evento observado na Praça Portugal (Trapiche), Av. Beira-mar, Florianópolis – Aconteceu na noite de 27 de agosto de 2003. Por toda divulgação nas mídias, uma multidão de centenas de aficionados da astronomia compareceram no local. O GEA, com sua tradição de observações públicas em eclipses etc, esteve presente com seu staff, telescópios, apontador laser e “devices” para demonstrações tridimensionais da configuração orbital dos astros envolvidos nesta oposição peculiar. A programação se iniciou de modo eletrizante com Marte apresentando seu esplendor. Era incrível a emoção de adultos e crianças ao observar pela primeira vez um astro ao telescópio. Tudo seguia acima das expectativas até que… as nuvens esparsas se condensaram e o céu nublou completamente. Alguns não aceitavam o fato de um telescópio potente não “atravessar as nuvens”. A vontade de ver o famigerado planeta fez o povo perseverar no local e se aglutinar em torno do telescópio, gerando um tumulto preocupante. Felizmente tivemos a intervenção do astuto Kiko, irmão do presidente do GEA , Adolfo Stotz Neto, que conseguiu persuadir a multidão para nova oportunidade de observação. Enfim, ficou para o Grupo a imensa alegria e contentamento por este mais que especial evento, bem com o aprendizado que proporcionou.
Evento observado em Santa Terezinha, município de São Pedro de Alcântara, SC – Para os astrônomos nada mais especial do que um dos chamados “Dark Sky”, o Céu Negro, livre da poluição luminosa que turva o céu estrelado. Santa Terezinha justamente oferece esta condição. E muito mais, pois lá, residia nossa associada Márcia Regina Stähelin, que ofereceu sua residência para uma confraternização do GEA, com sua famosa “Galinhada” e uma inigualável condição de céu para observar Marte em sua histórica oposição. Nesta oportunidade, numa altitude de 230 m e longe da borda do mar, mesmo desafiando o frio cortante de agosto amenizado com fogueira, foi possível visualizar a tão famosa Calota Polar de Marte. Um belíssimo destaque super branco contra o disco avermelhado do planeta. Foi um bônus incrível e inesquecível desta Oposição. Estiveram presentes, além da anfitriã, seu marido Renato Stähelin e filha Renata, Antônio C. de Lucena, José Geraldo Mattos e esposa Patrícia, José Tadeu Pinheiro, Luiz B. Dal Molin, Márcia Daniels R. Pernigotti (e seus Neófitos), Cecília S. Cardoso, Alfredo Martins, Margareth L. Martins, Aldérico Franzen e esposa Vânia.
Esta “Histórica Oposição Celeste” foi devidamente contemplada com uma também “Histórica Conjuntura Terrestre”: a expertise do GEA descortinou para nossa sociedade, e a nós mesmos, a constatação do encanto da astronomia, trazendo sua inusitada realidade para um patamar muito acima da imaginação. Parabéns ao Grupo de Estudos de Astronomia / Planetário UFSC e aos felizes amantes do céu, este sim, uma eterna fonte de beleza, segredos, surpresas e inspiração.
MEMÓRIA VISUAL
EVENTO BEIRA-MAR
EVENTO SANTA TERESA
OPOSIÇÃO DO PLANETA MARTE 2003