2004

A observação do Trânsito de Vênus em 08 de junho de 2004


Fonte: Alfredo Martins

“Milestone” – assim a literatura científica internacional nomearia a observação do Trânsito de Vênus em 08 de Junho de 2004, realizada pelo GEA na cidade de Florianópolis. Este evento astronômico absolutamente marcante ficou ombreado na história de Grupo de Estudos de Astronomia com as observações inesquecíveis do Cometa 1P/Halley em 1986 e o Eclipse Solar Total de 1994, todas por suas especiais características de raridade de ocorrência, importância na mecânica do sistema solar e suas relações históricas com a construção do crescimento científico deste longevo grupo de amantes das belezas e mistérios do céu e do universo.

Trânsito do planeta Vênus significa a passagem orbital deste planeta em frente ao disco solar, observado ao telescópio como um pequeno círculo escuro. A raridade surge da sua ocorrência aos pares separados por 8 anos, seguidos por intervalo de tempo superior a um século. A importância histórica remonta aos tempos imperiais da antiga Desterro, quando foi observado e documentado pelo astrônomo José Brasilício de Souza, cuja família catarinense ainda hoje honra a memória deste insigne cidadão.

Em retrospecto, a 1ª observação científica deste tipo de trânsito foi feita em 1639 por Jeremiah Horrocks na Inglaterra. Edmond Halley, também inglês, famoso descobridor da periodicidade dos cometas, propôs em 1716 que a observação do Trânsito de Vênus poderia ser usada para calcular a Paralaxe Solar e portanto determinar a distância da Terra ao Sol, conhecida como Unidade Astronômica (UA). Nos eventos dos trânsitos combinados de 1761 e 1769, o astrônomo francês Jérome Lalande calculou o valor da UA em 153 milhões de km.

O refinamento do valor da UA teve participação brasileira no Trânsito de 1882. Por seu interesse pela ciência da astronomia, Dom Pedro II foi incentivador e patrocinador da expedição liderada pelo então diretor do Imperial Observatório – Luiz Cruls, a qual determinou o valor mais preciso da época para UA em 149,4 milhões de km, apenas 0,1% menor que a distância considerada atualmente. Esta campanha tornou o Brasil respeitado no cenário internacional da astronomia, justificando plenamente a condição de Patrono da Astronomia Brasileira ao emérito imperador. Por conseguinte, na data de seu nascimento – 02 de dezembro – é celebrada como o Dia Nacional da Astronomia.

Muito importante destacar ainda sobre este Trânsito de Vênus de 06 de dezembro de 1882 é o fato de ele ter sido observado e registrado na nossa antiga Desterro pelo astrônomo José Brasilício de Souza. Considerado com toda justiça um homem sábio, foi professor de História, Geografia, Cosmologia, Piano e Violino, além de divulgar na imprensa Astronomia, História das civilizações e o idioma internacional Volapük. Sua biografia se encontra disponível em várias obras, como neste caso, pesquisada em “AMORIM, Alexandre. O Astrônomo Brazilício. Edição do Autor. Florianópolis, 2012.”

Neste raro evento que iria se repetir somente em 2004, Brasilício foi pertinaz contra o céu nublado e chuvoso, este temido inimigo das observações astronômicas em solo. Cessada a chuva, o Trânsito ainda estava em evolução o que lhe permitiu fazer um desenho do astro rei visitado por uma deusa planetária.

Já agora em 8 de junho de 2004, impregnado por toda esta magnífica historicidade, o GEA – Grupo de Estudos de Astronomia / Planetário UFSC, realizou uma mobilização cuidadosa para observação deste extraordinário alinhamento dos astros Terra / Vênus / Sol. O Local escolhido foi nos altos do Morro do Antão, também conhecido como Morro da Cruz, localizado em Florianópolis, no centro da Ilha de Santa Catarina.

Uma miríade de equipamentos e dispositivos foram selecionados: telescópios com projeção do disco solar para observação segura do evento sem danos oculares (gerenciados pelas diretoras do Planetário Edna Maria Estevens da Silva e Tânia Maris Pires Silva), telescópios com objetivas protegidas com Filtro Mylar para curtas observações diretas (gerenciado por José Geraldo Mattos), telescópio acoplado câmera digital para registro fotográfico nítido e cronometrado (gerenciado por Sérgio Schmiegelow), TV portátil para acompanhamento internacional do Trânsito (gerenciado por Alfredo Martins), Vidros de Soldador específico para observação solar ( gerenciados por Antônio C. de Lucena), supervisão de observações e mídias (gerenciadas pelo presidente do GEA Adolfo Stotz Neto) e preciosas colaborações dos membros do GEA – Angela Tresinari, Angelita Pereira, Margareth L. Martins e Lídia ).

Igualmente ao evento de 1882, com toda entourage de jornalistas, membros do GEA e mais a parafernália de instrumentos óticos e eletrônicos distribuídos no deck de observação no topo do Morro em plena escuridão da madrugada, eis que o dia fatídico se insinua nublado. Uma atmosfera de excitação e preocupação se instalou mas felizmente foi aos pouco dissipada. O previsível Astro Rei se apresentou ao Leste e todas as atenções se concentraram em sua direção. A visão do pequeno círculo negro lentamente movendo-se no disco solar foi saudada como uma vitória do encantamento e precisão da astronomia. Seu percurso sempre acompanhado com muita agitação e registros, culminou com o Contato III em sua borda de saída. A imensa alegria desta consagrada campanha finalmente foi celebrada com um brinde de Vinho do Porto e a certeza de sua perene memória, importantíssima na consolidação do GEA.


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