Ele estufava o peito
Contra a brisa do nordeste,
Naquela paisagem agreste,
Sem cerca ou limitação.
Tinha uma vida liberta,
Espraiava-se no pedaço,
Não lhe faltava espaço,
Fosse qualquer direção.
Perscrutava atento as águas,
Uma mancha, um negrume
Que revelasse um cardume,
Pr’as suas redes lançar.
Soltava um grito de alerta
Avisando os companheiros;
Lépidos, mais que ligeiros,
Punham a canôa no mar.
Sabia contar hitórias,
Dizia saber de tudo,
Perguntador, abelhudo,
Mas tinha bom coração.
Este era seu viver
De tudo despreocupado,
Não era um homem ilustrado
Mas sentia os pés no chão.
Então sobreveio o turismo,
Terrenos, casas, comprando;
A tudo açambarcando.
Os empresários chegaram!
Seu pedacinho de terra
Naquelas plagas perdido,
Lhe falaram ao ouvido:
Desgraçadamente acharam!
Hoje anda cabisbaixo,
Não ousa erguer a vista,
Nem perturbar o turista
Com seu jeito de mané
Pescar sozinho não dá,
Seus amigos se mudaram
E os poucos que lá ficaram,
Já não vivem da maré.
Tenta ganhar a vida
Vendendo coisas e estranhos
E dissabores tamanhos
Chegaram com a idade.
Outrora ganhava pouco
Vivendo da pescaria;
Que saudades, quem diria,
Tinha mais dignidade.