Currículo de um Manezinho

Nasci em casa de estuque
Com galinhas no porão,
Tomei banho de gamela,
Tomei café do boião.
Fui criado a rédea solta
Lá pra’s bandas do sertão.

Raspei mandioca em engenho,
Comi beiju de montão,
Comi manjuva na brasa
E tainha no feijão.
Não era em cima da mesa,
Mas na esteira,
No chão.

Tarrafeei na Lagoa
Na safra do camarão,
Peguei siri de forqueta
E já puxei arrastão,
Cacei no mato do assopro
Com gaiola de alçapão.

Cantei em terno de reis,
Brinquei em boi de mamão,
Fiz muita serenata
De cavaco e violão.
Já vim a pé da cidade
Com os sapatos na mão.

Hoje olho as estrelas,
Planetas em oposição,
Lavro a terra generosa
E cuido da plantação.
Ainda jogo tarrafa
Da popa do batelão.

Depois de versos tão simples
Conforme a moda de então
E rimas tão corriqueiras
Com a mesma terminação,
Agora eu lhe pergunto:
Sou manezinho ou não?

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